Empresários apostam em negócios voltados para idosos em Pernambuco
O envelhecimento acelerado da população cria novas oportunidades de negócio em Pernambuco. Trata-se de serviços específicos para a terceira idade, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do idoso. A aposta nesse mercado é quase certa, uma vez que a tendência é de crescimento contínuo. De acordo com projeções do IBGE, a população com mais de 65 anos no Brasil deve passar de 19,2 milhões para 58,2 milhões, mais do que triplicar, até 2060.
Para além da prestação do serviço, este público demanda atenção às suas necessidades. Por isso, a Essence cuidados, empresa de transporte de idosos e cadeirantes, treinou os motoristas para atuarem como cuidadores. Hoje, 90% do público-alvo é idoso. A frota de quatro veículos conta com dois carros adaptados (que custam R$ 120 mil cada um), com plataforma elevatória para que o cadeirante não precise ser carregado.
“Temos mais de cem clientes ativos. Cerca de 60% da demanda é para tratamentos, consultas e exames. Mas também somos procurados para levar o cliente até o cabeleireiro, ao almoço de família do domingo e para fazer viagens. Temos planos para expandir, só estamos esperando a demanda. Nos próximos dois anos, queremos ter uma frota com dez carros. Estamos estudando atuar em outros Estados. Já recebemos propostas para levar o serviço a cidades como São Paulo e Manaus. Usamos câmeras dentro do carro que os parentes possam acompanhar o trajeto”, explica um dos sócios-diretores da Essence Cuidados, Rafael Bitu. Hoje, a empresa tem 30 parcerias com agências de turismo, clínicas e outros prestadores de serviço. O acompanhamento em carro adaptado custa R$ 75 por hora. Já no carro regular, a hora sai por R$ 60.
Para Ana Zélia Belo, 44 anos, o trabalho da Essence trouxe mais dignidade para o transporte de sua tia, Ilda Luna, 86, que tem a mobilidade reduzida devido a sequelas de doenças degenerativas. “Procurei o serviço pela facilidade do carro adaptado. Quando preciso do serviço, acompanho a viagem que minha tia faz pelo aplicativo, me deixa mais tranquila”, comenta.
A adaptação de ambientes para trazer conforto e segurança aos idosos é outro negócio que desponta, segundo revela o escritório Lazo Arquitetura, que nasceu há um ano para se dedicar à arquitetura inclusiva. A ideia é criar espaços que atendam a todos os tipos de pessoas, beneficiando também idosos. “Nos projetos para idosos, priorizamos mobiliários com estabilidade, ergonomia e boa iluminação. Em um ano, fizemos quatro projetos para idosos com mais de 70 anos que representam 25% do nosso faturamento. Trabalhamos forte o conceito de acessibilidade, pois é lei e é norma em espaços públicos. Entendemos que o idoso será um dos usuários finais. No fim, todo mundo ganha”, explica a sócia do escritório Tâmara Maysa.
Um dos clientes do Lazo Arquitetura é Manuel Aguiar, consultor de acessibilidade e inclusão, 70. Ele é cego e planejou seu apartamento e sua casa com espaços amplos e corredores largos para que qualquer pessoa, incluindo cadeirantes ou usuários de muletas possam circular livremente, sem obstáculos. No banheiro do apartamento, por exemplo, não há armário embaixo das pias, para acomodar melhor pessoas com cadeiras de roda. Além disso, há sinalizações em braile em tomadas. “As pessoas só pensam em adaptar ou adequar uma casa, infelizmente, quando estão idosas ou com alguma condição especial. Temos que pensar na casa para todos”, afirma. No prédio onde mora, ele lutou para que os elevadores e os apartamentos tivessem indicação dos andares e do número dos apartamentos em braile.
O analista de orientações empresariais do Sebrae, Valdir Cavalcanti, alerta que para trabalhar com idosos, o empresário não pode visar apenas o lucro. “É muito importante que o empresário se capacite para lidar com idosos. O prestador de serviços voltado para a terceira idade tem que ter como objetivo ajudar.”
AUTONOMIA
A aposentada Marlene Queiroz, 69 anos, está fazendo curso de informática básica no Senac, mora sozinha e dirige. “Estou aprendendo informática para não precisar depender de ninguém”, afirma. Garantir que mais idosos envelheçam como Marlene, com saúde e autonomia preservada, é o objetivo de programas como o Vida na Maturidade, desenvolvido pela Lee Hecht Harrison (LHH). “A gente trabalha ajudando as empresas e conversando com os funcionários que estão perto de se aposentar ou que já se aposentaram sobre qual o propósito da vida deles, quais talentos e interesses possuem. Nosso programa também trabalha os aspectos financeiros e de saúde. É muito importante a preparação para que após a aposentadoria a pessoa possa ter equilíbrio e planejamento para ter poder de escolha”, diz a diretora de operações e transição de carreira, Mariângela Schoenacker.Outra forma de manter as pessoas ativas é através do trabalho. Recolocar pessoas com mais de 50 anos no mercado é justamente a meta da MaturiJobs (disponível no endereço www.maturijobs.com). A empresa surgiu de uma experiência do sócio fundador da plataforma Morris Litvak, que viu a avó adoecer após parar de trabalhar aos 82 anos, quando sofreu um acidente. “Em 2015, quando a crise estourou, conheci pessoas com mais de 50 anos que me lembraram a história dela, sofrendo por não ter oportunidade no trabalho”, explica. A plataforma conta com 75 mil pessoas cadastradas, sendo 20% do Nordeste. Além do sistema digital, a empresa promove capacitações presenciais.
No Senac, todos os anos, cresce o número de turmas ofertadas em cursos de tecnologia voltados para a terceira idade. “Os idosos querem manter a autonomia. A partir da demanda, criamos o curso informática para a terceira idade, internet para a boa idade e smartphone e seus aplicativos para a maturidade. No total, temos 500 idosos capacitados”, comenta a gerente da Unidade de Tecnologia e Informática do Senac, Marcela Angelo.
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